segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Border



Era bonita. Tinha a pele alva, apenas algumas sardas marcavam a pele próxima ao nariz. Os cabelos eram tingidos de um ruivo acobreado vibrante. Aos olhos de todos, tinha uma família linda, um bom emprego, um marido atencioso e filhos perfeitos. Sorriso fácil, olhar tímido e um jeito meigo que ao primeiro momento encantava quem a conhecia. Era divertida e inteligente, capaz de dominar o mundo, se assim o quisesse.
Havia perdido os amigos há muito tempo. Nunca soube se os teve na verdade, ou se eles se afastaram após conhecê-la melhor. Era uma menina meiga, mas instável. Capaz de mudar do mais pacífico anjo para o mais terrível demônio com a menor fagulha do que julgasse ser ofensivo para sua mente confusa.

Críticas. Fofocas. Pensamentos mórbidos. Lembranças ruins. Paranoia. Confusão. Sangue.
“É pra chamar a atenção.”
“É puro drama.”
“É doente.”
“É o ‘inimigo’ atacando.”
As pessoas a julgavam sem de fato a conhecerem. As pessoas ouviam os relatos das coisas que ela fazia horrorizadas. As pessoas lhe viravam as costas e queriam manter distância dela.
Ela sofria, e fazia as pessoas sofrerem. Ela não entendia porque as pessoas sempre se afastavam. Ela só queria que alguém a visse por trás da fachada. Ela só queria que alguém lhe entendesse.
Morreu sozinha, aos 21 anos, em um quarto de hotel com um lençol amarrado no pescoço.

Ela só precisava de ajuda.

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Era bonita. Tinha a pele alva, apenas algumas sardas marcavam a pele próxima ao nariz. Os cabelos eram tingidos de um ruivo acobreado...